Depressão não é tristeza.

Ao longo da minha prática clínica como psicóloga tenho acompanhado, cada vez mais, pessoas que lutam com depressão.

Muitas pensavam estar apenas tristes, sem saber as razões. Outras estavam extremamente preocupadas ao pensar que podiam estar com sintomatologia depressiva.

Isto porque associamos, erradamente, depressão com tristeza.

 

Depressão e tristeza podem partilhar algumas coisas em comum, mas não são a mesma coisa. Sentir tristeza é apenas uma parte do quadro depressivo.

 

Tristeza é uma emoção normal que todos nós sentimos de tempos a tempos. Todos nós já tivemos maus dias (uma discussão, a perda de um ente querido, uma desilusão, sobrecarga no trabalho, não conseguir um emprego, noites mal dormidas). Quando sentimos tristeza podemos encontrar algum alívio através do choro ou falar sobre as causas dessa mesma tristeza. Estar triste é normal e importante para a superação de situações negativas da vida.

 

Normalmente a tristeza passa com o tempo. Quando a tristeza e melancolia deixam de ser temporárias, existe o perigo de entrar num quadro depressivo.

 

Depressão é um quadro clínico do foro mental e psicológico, um desajuste emocional. Um estado emocional anormal que afeta o pensamento, as emoções, perceções e os comportamentos. Podendo causar uma tristeza persistente. Quando existe depressão, podemos sentir-nos tristes com praticamente tudo. Não tendo que existir um evento ou uma situação que despolete este estado.

 

O termo “depressivo” tem vindo a ser banalizado e até utilizado erradamente como um sentimento – “Hoje sinto-me deprimido”

 

Não podemos classificar todas as pessoas tristes como estando deprimidas.

Nem podemos utilizar este conceito como sendo um sentimento ou uma emoção. A procura da diferenciação entre estes estados (tristeza e depressão) tem sido uma luta e preocupação constantes. A confusão existente pode levar a uma negligência de uma condição clínica grave que requer tratamento – Depressão. Ou ao exagerar de uma emoção perfeitamente normal em determinadas situações – Tristeza.

 

Depressão não é apenas um estado de tristeza, não é preguiça, não é mau humor, não é fraqueza, não é falta de força de vontade.

 

Espera-se que a pessoa que batalha com o desajuste emocional da depressão, “saia disso”, pois “está tudo na tua cabeça”, “a tua vida não está assim tão mal”, “tens que escolher ser feliz”, “tens que pensar positivo”. Para quem está a passar por um quadro depressivo, não é assim tão simples. Isto reflete uma tremenda falta de entendimento sobre depressão, fazendo com que a pessoa se sinta pior. É fundamental que as pessoas mais próximas da pessoa com depressão, façam parte do processo e conheçam também os sintomas para melhor conseguirem ajudar e apoiar numa recuperação saudável.

 

Como em qualquer outra doença, não se pode culpar a pessoa por estar doente. A pessoa sabe e quer “sair disso”, mas não consegue. Precisa de ajuda e tratamento.

 

Começam então a surgir os sentimentos autodestrutivos de culpa e desvalorização causando uma degradação emocional que culmina em pensamentos tais como: “Sou culpado”. “Fiz tudo errado na minha vida”. “Não mereço a preocupação dos outros”. “Sou um fardo”. “Sou um falhanço”. “Não sinto nada”. “Nada me desperta qualquer emoção”. “Não me reconheço”. “Estou exausto”. “Sou fraco”. “A minha vida não faz sentido”.

 

Reconhecer a diferença entre depressão e tristeza pode ajudar uma pessoa a procurar o caminho mais saudável para ultrapassar estes estados.

 

A tristeza é apenas um dos sintomas da depressão, existindo muitos outros. Esta gama de sintomas causa sofrimento e interfere de forma significativa e negativa nas diversas áreas da vida da pessoa (pessoal, familiar, profissional, social).

 

Não é fácil perceber quando se cruza a linha tristeza para depressão. Para perceber se estamos perante um quadro depressivo (leve, moderado, grave), é necessária uma avaliação completa e individualizada por parte de profissionais especialistas no campo da saúde mental. Um profissional pode trabalhar consigo no sentido de avaliar e amenizar o sofrimento presente, criando-se as condições mais favoráveis a uma melhoria mais célere na esfera psico-emocional.