O que esperas ler neste artigo?
Partilho com vocês algumas palavras, já há muito em pensamento, sobre expectativas.
Muitos dos sofrimentos que acompanho em consultório estão, em grande parte, relacionados com a criação de expectativas (irrealistas ou demasiado elevadas) em relação a situações e pessoas.
A desilusão que surge quando alguém não teve aquela atitude que esperavas ou aquela situação que não correu como planeado.
É normal que isto aconteça. As nossas vidas estão recheadas de expectativas, esperanças, desejos. É difícil (ou até mesmo impossível) não as ter por completo. Já Piaget nos falou do pensamento mágico presente nas crianças, que consiste em acreditar que os seus pensamentos podem fazer com que as coisas aconteçam na realidade.
O que é certo é que também os adultos julgam ter este superpoder através das expectativas.
O problema surge quando as expectativas são muito elevadas ou irrealistas. Ao esperar que tudo seja perfeito é fundamental lembrar que, na realidade, a perfeição não existe.
Se esperas que algo seja perfeito, há uma maior probabilidade de te dececionares.
Podemos planear aquela viagem de sonho na esperança que seja tudo perfeito, mas isso irá depender de algo externo. Podemos escolher aqueles amigos que pensamos que se preocupam connosco, mas não podemos controlar se estes irão dar o apoio desejado, podemos desejar ficar para todo o sempre com o amor da nossa vida, mas não podemos controlar se a pessoa ficará ou não.
Colocar nas situações e outras pessoas algo que está fora do nosso controlo pode ser cruel, tanto para quem cria estas expectativas como para quem as recebe.
É aqui que reside o grande perigo das expectativas:
Esperar demais!
O que vai mudar, quando vai mudar, o que pode acontecer, como vai acontecer, será que vai acontecer, quando vai acontecer, o que reserva o futuro, o que os outros estão a sentir, como os outros vão agir, será que vou conseguir, e se não conseguir, será que vai correr bem, será que vai correr mal, e se correr mal.
Uma carga pesada de ansiedade! Eu diria mesmo, um tremendo desperdício emocional.
Viajamos para o imaginário e esquecemos que o único momento real que temos é o presente. E é nele que podemos agir e fazer acontecer. O que foi, já foi. O que está para vir é imaginário e não temos como controlar.
Aqui (no presente) tens poder. Para viver, melhorar, mudar, curar, criar.
Quando esperamos ou desejamos muito alguma coisa e essa expectativa não se cumpre, pode surgir frustração, insegurança, raiva, tristeza, dor, desilusão. Lidar com estas emoções pode ser difícil e despoletar desajustes emocionais como depressão e ansiedade.
As tuas expectativas têm impacto na tua realidade e nas pessoas em redor. Podem mesmo “matar” a tua felicidade.
A vida deveria ser justa.
Não é.
Todos deveriam gostar de mim.
Não conseguimos agradar a todas as pessoas, tal como nem todas as pessoas nos agradam.
As pessoas deveriam concordar comigo.
As pessoas têm as suas próprias crenças e vontades e não agem conforme nós queremos.
Tenho que fazer tudo bem.
Autossabotagem.
Eu posso mudar a outra pessoa.
A única pessoa que podes realmente mudar é a ti.
Se definires as tuas expectativas para que estejam mais alinhadas com a realidade, a probabilidade de te dececionares é menor.
Ao longo deste artigo, não quero transmitir a ideia de que a criação de expectativas deve ser eliminada. O menor desejo do quotidiano pode ser considerado uma expectativa.
Não há problema em esperar que coisas boas aconteçam.
O problema está em esperar demais, ser irrealista nessa esperança e não estar preparado para se lidar com a frustração ou desilusão quando algo esperado não acontece.
Aprender a aceitar o que é, o que não é, o que deveria ser e não é. É algo poderoso!
Sonha! Deseja! Ama! Faz planos! Imagina! Apaixona-te! Cria objetivos para o futuro! Tendo em mente que te podes dececionar. E não há problema caso isso aconteça. Aprende a gerir essas emoções.
Permite que a vida te surpreenda e aprende a abrir mão das tuas expectativas irrealistas e verás toda uma estrada abrir-se na tua frente!
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